disfunções sexuais, Opinião

O que fazer quando a rotina sexual é desconfortável?

Ilustração de uma mulher com dor
Para muitas mulheres, a atividade sexual é sinônimo de desprazer, desconforto e de dor. Mesmo assim, muitas delas mantém uma vida sexual regular, pelos mais diversos motivos.
As causas mais frequentes de dor à relação sexual são a falta de lubrificação vaginal e a contratura da musculatura perineal. Fazer sexo sem desejo, por obrigação ou apenas para agradar o parceiro tem grande possibilidade de resultar em desconforto e frustração. O mais impressionante é que um número significativo de mulheres acham que esse sexo burocrático e sem prazer é o “normal” e podem passar uma vida inteira se conformando com sexo sem graça, sem personalidade e sem perspectiva.
O site da BBC publicou uma reportagem interessante sobre o assunto que você pode ler aqui., num artigo intitulado “Por que a dor e a falta de prazer fazem parte da vida sexual de tantas mulheres?”
Essa situação pode mudar a partir do momento em que a mulher se descobre como um ser sexuado, onde ELA se dá a permissão e o direito de sentir tesão e assume as rédeas da própria sexualidade, onde as próprias necessidades vem em primeiro lugar e a busca do prazer passa a ser feita JUNTO com a pessoa que compartilha sua cama, e não mais PARA ela.
Para chegar a esse amadurecimento é necessário questionar uma série de valores e regras aos quais somos apresentados ao longo da vida, num processo de reaprendizado de coisas que nunca foram ensinadas. Como em qualquer atividade, sexual ou não,  cada uma tem seu tempo e ritmo para chegar lá. Umas podem preferir desbravar estes territórios sozinhas, outras podem explorar novos caminhos com suas parcerias, enquanto algumas podem repensar suas trajetórias e traçar novos planos com ajuda profissional.
Seja qual for a opção escolhida, o importante é se mexer,  sair da acomodação e buscar  novos caminhos, que levem a novos lugares e novas visões do mundo, numa jornada em direção ao auto conhecimento.
Opinião

A pornografia como educação sexual

Uma educação sexual mais franca e aberta pode favorecer a tomada de decisões mais conscientes, autônomas e responsáveis a respeito da vida sexual de cada um.

 

Num artigo na The New York Times, intitulado “Quando a Pornografia se Tornou Educação Sexual?”, a escritora americana Peggy Orenstein questiona as limitações do sistema educacional americano na educação sexual de meninas e os impactos desta (falta de) educação na forma como estas experimentam sua vida sexual. Na mesma semana, o UOL publicou um interessante artigo sobre o mesmo tema.

Segundo Peggy, a educação sexual (formal ou doméstica) dos americanos se divide em duas abordagens principais: a abstinência, cuja mensagem principal é “Não faça!”;

e uma abordagem mais organicista, que apresenta a genitália masculina em detalhes, focando na capacidade de ereção peniana e de ejaculação,

enquanto a parte feminina se restringe  aos órgãos internos, que menstruam e engravidam (ou seja, os brinquedos dos meninos servem para diversão, enquanto os das meninas são fonte de desconforto e preocupação…). Pouco ou nada se fala sobre a genitália externa feminina e seu possível uso como fonte de diversão e prazer.

 

Nesse cenário, as crescentes discussões sobre violência sexual voltam seu foco para a questão do consentimento explícito da mulher para participar de qualquer atividade sexual, mas pouco se fala sobre o que acontece após esse consentimento.

Para preencher esse vácuo de informações, a pornografia ocupa um papel relevante, dada a sua facilidade de acesso e volume de material disponível, especialmente no mundo online. Entretanto, o sexo mostrado na pornografia apresenta enormes diferenças em relação ao que é praticado no dia a dia, começando pelo foco prioritário no prazer masculino e na penetração de diferentes orifícios corporais, na roteirização das sequencias de acontecimentos, com pouca ou nenhuma importância para preliminares como beijos e carícias, na total ausência de contexto relacional entre os participantes, nas posições sexuais de pouco contato corporal (para facilitar a filmagem das penetrações), na padronização das anatomias e dos padrões de beleza (eliminação dos pelos corporais, genitálias e mamas de tamanho acima da média populacional) , entre outros.

Embora os jovens saibam que aquilo que o pornô mostra não seja real, seus valores começam gradativamente a moldar os padrões da atividade sexual entre as americanas. A autora cita a naturalização (e a banalização) da prática de sexo oral, e do aumento da frequência de adolescentes praticando sexo anal . Em nosso meio, a disseminação dos nudes enviados e replicados em diferentes etapas de relacionamento entre adolescentes indica que os paradigmas sobre intimidade e privacidade estão em mutação.

As conclusões de Peggy sobre as limitações ao pleno exercício da sexualidade feminina são compatíveis com o que encontramos em nosso meio, tanto na clínica privada como nos serviços públicos. As principais causas que atrapalham o desejo, a prática sexual prazerosa e sem culpa são:

  • a falta de permissão para pensar, sentir e se expressar quanto à própria sexualidade;
  • a falta de conhecimento sobre o próprio corpo, seus gostos e preferências em se tratando de sexo;
  • uma excessiva atenção e prioridade ao prazer do outro, em detrimento das próprias necessidades.

Na minha opinião, os caminhos para a resolução destes problemas incluem:

  • Falar sobre o assunto: discutir questões relacionadas à sexualidade, com colegas ou com profissionais, permite que certezas e medos relacionados à prática sexual sejam redimensionados ou relativizados, ao mesmo tempo em que são treinadas habilidades de expressão e comunicação sobre temas sensíveis. Um ambiente de confiança, aceitação e ausência de julgamento são fundamentais.
  • (Auto)conhecimento: buscar informações disponíveis nas mais diversas fontes e identificar gostos e preferências. Importante lembrar que o próprio corpo é fonte de informação, fornecendo dados personalizados sobre o que funciona e o que não funciona para cada pessoa.
  • Permissão e experimentação: focalizar e priorizar as sensações do próprio indivíduo, a fim de obter clareza antes de se ocupar do prazer alheio. Testar diferentes alternativas para a lidar com as questões identificadas anteriormente. Voltar às etapas anteriores quantas vezes forem necessárias.

A pornografia, quando utilizada por uma mulher sexualmente madura, consciente de seus desejos e necessidades, pode ser uma ferramenta interessante para o enriquecimento da vida sexual. Como instrumento de educação sexual, ela deixa muito a desejar…

créditos das imagens:

media.tumblr.com/53ee66e9dd1984db9ab1f1bd917eeeeb/tumblr_inline_mw9mgwD8YZ1qcn90d.gif
http://www.edudiagrams.com/2015/07/sex-education-diagrams.html#
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